quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Escalada ao Dedo de Deus - Via Leste pela Blackout

Por Leandro do Carmo


Escalada ao Dedo de Deus - Via Leste/Blackout


Data: 28/07/2012
Local: Guapimirim – Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Participantes: Leandro do Carmo, Guilherme Belém, Ary, Igor Holzer e Alessandra.





Conquistadores: Almy Ulisséa, Antônio Taveira, Ulisses Braga
Ano: 1944

Dicas para escalar o Dedo de Deus

Caminhada de aproximação pesada, levar luvas para os cabos de aço, levar anorak, boa headlamp, pilhas extras, dura o dia inteiro, levar água e comida, o escalador tem que estar dominando técnicas de chaminé, ter bom condicionamento físico, alguns lances bem expostos.

Relato da Escalada no Dedo de Deus


28 de Julho de 2012 ficará para sempre na minha lembrança. Chegar ao topo do Dedo de Deus sempre foi um sonho e acho que para a maioria dos montanhistas também. Uma caminhada pesada de aproximação, cabos de aço, cordas, trepa-pedras, ancoragem em árvores, exposição, chaminés e muita, mas muita subida... Assim dá para tentar resumir o que é escalar o Dedo de Deus. Nada mais gratificante do que chegar ao topo no ano de comemoração do centenário da conquista, ocorrida no dia 09 de abril de 1912.

A jornada foi longa, levamos aproximadamente 14 horas para completá-la. Muito cansativo, porém recompensador!!! Mas vamos ver como foi...

Vontade de escalar o Dedo de Deus nunca faltou. Estava apenas esperando a oportunidade, alguém que já conhecesse e estivesse disposto a voltar lá. Em uma das reuniões sociais do Clube Niteroiense de Montanhismo – CNM, conversei com o Ary sobre a minha vontade de escalar o Dedo. Ele me sugeriu a data do dia 28 de julho e topei na hora. Éramos sete, talvez um número grande de mais, porém resolvemos que iríamos assim mesmo. Na semana da escalada, trocamos alguns e-mails para acertarmos alguns detalhes como horário, as cordadas, etc.

Marcamos às cinco da manhã em frente ao antigo Hospital Santa Mônica. O Guilherme passou lá em casa e quando chegamos lá, o Ary já nos aguardava. O carro do Adriano não ligava de jeito nenhum  e ele acabou ficando, o que nos fez deixar o Cláudio para trás, o carro do Guilherme já estava cheio e não cabia mais ninguém. Foi uma pena, mas vida que segue...

Resumindo: de sete, viramos cinco. E assim começamos a viagem, com meia hora de atraso, mas nada de assustar. Já chegando em Guapimirim, uma pequena chuva começou a cair... Chuva??? Essa não estava nos nossos planos... Continuamos a subir na esperança de que fosse alguma nuvem passageira. Quando chegamos ao estacionamento, Tinha algumas  nuvens no céu, mas não dava para ter certeza de como estava o tempo. Então, decidimos ir até a base e lá decidiríamos se continuaríamos ou não.

Escalada Dedo de Deus
Descemos a estrada até a entrada da trilha, na curva a direita, depois da Santa. Ainda não dava para ver a montanha, ela estava escondida entre as nuvens. Por vezes, víamos apenas o vulto. Começamos a trilha. Pesada desde o começo, não dava trégua. Foram mais ou menos uma hora e dez até os cabos de aço. Lá, vimos que o tempo estava bom, não teríamos problema. Paramos para uma água e começamos a subir. Os braços tem que estar preparados!!!! A subida continuava forte. A cada minuto que passava, as nuvens iam se dissipando e o Escalavrado ia mostrando a sua cara. Passados mais alguns minutos e o Dedo de Deus mostrou toda a sua beleza.

Eu, Igor e Guilherme, subimos um pouco na frente, enquanto o Ary e a Alessandra, mais atrás. Passamos um pouco do caminho, fomos em direção a Via Teixeira. Tivemos que voltar um pedaço. Mais um pouco de subida e estávamos no Polegar. Chegamos por volta das 09:40. Segunda parada para água e um descanso. Fomos até o alto dele para bater algumas fotos. Voltamos rápido para iniciar a subida, pois vinham mais algumas pessoas e não queríamos ficar para trás, o que poderia atrasar nossa subida.

Rapidamente, peguei minha mochila e comecei a subir. Chegamos até a base, onde efetivamente começamos a escalar. Dividimos as cordadas. Eu guiaria o Guilherme e o Igor, enquanto o Ary, a Alessandra. E assim começamos a subir. Logo de cara um pedra meio chatinha. Vencido o lance continuei subindo, coloquei uma fita numa árvore para proteção, pois não sabia o que encontraria pela frente. Esse começo foi tranquilo, um misto de escalada fácil com trepa-pedras. Encontrei um grampo, onde montei a parada, logo depois chegaram Guilherme e o Igor. Ary e Alessandra vieram logo atrás. O Ary me passou as dicas de como chegar até a gruta onde divide o caminho para a Maria Cebola e a Chaminé Blackout. Comecei a subir para não atrasar. Fui protegendo em algumas árvores. Uns dois lances bem legais, onde entalava os pés e mãos para continuar subindo. Cheguei numa arvorezinha que o Ary tinha falado e contornei a pedra por fora, um pouco mais exposto. Cheguei a gruta. Já era 10:50. Dali já dava para ver o comecinho da Maria Cebola e a entrada para a Blackout. Montei a parada no tronco da árvore e dei segurança ao Guilherme e o Igor. A vista dali já era fantástica. Só imaginava como seria lá em cima...

A galera chegou logo depois. O Ary iria pela Blackout e eu pela Maria Cebola. Ameacei subir, mas decidi ir pela Blackout também. Apesar de poder atrasar um pouco a subida, assim fizemos. Tivemos que passar sem mochila, a entrada era apertada de mais. O Ary foi na frente. Logo depois foi minha vez. O lance é exposto, mas tranquilo. Fiquei impressionado com o que vi pela frente. Era uma fenda bem estreita que tinha que apertar para passar. Rebocamos todas as mochilas para adiantar.


Agora só de lanterna, já não enxergávamos nada, daí o nome de blackout!!!! A caverna estava cheia de côcô de andorinha no chão. O Ary foi na frente e encontrou o caminho. Era muito apertado... Acho que um gordinho não passava!!!! Ele subiu e foi rebocando as mochilas. Para ver como é apertado, até as mochilas, sozinhas, tinham dificuldade de passar. Era minha vez de subir, fui até o final e na chaminé, fui subindo. Por vezes, era só encher o pulmão que você ficava preso. Passei por uma pequena passagem, meio de lado e cheguei até o andar de cima!!!! Gritei para a Alessandra escalar e ela veio subindo. O Ary ficou mais em cima. Ela também chegou e depois foi a vez do Guilherme e do Igor. Enquanto eles subiam, o Ary e a Alessandra continuaram. Demoramos um pouco mais. A logística era complicada. As chaminés muito apertadas, ficava difícil até se posicionar lá dentro para rebocar as mochilas e dar segurança. Mas vencemos!!!

Escalada Dedo de Deus A partir dali, era mais uma grande chaminé, com um grampo acima de uma pedra entalada no meio. Fui seguindo uma fenda na parede. No alto, um degrau na parede
ajuda a descansar. Fora da chaminé, mais um grampo onde montei a parada. Puxei as mochilas e dei segurança ao Guilherme e ao Igor. Eles foram chegando e já se dirigiram para frente, arrumando a corda e mochilas na base de outra chaminé, antes do lance do cavalinho.

Cheguei ao lance do cavalinho ás 13:45, a Chaminé Blackout foi o pedaço onde perdemos mais tempo. No lance do cavalinho, a gente monta literalmente na pedra, como se estivéssemos num cavalo. Usamos uma fita para servir de estribo e tocamos para cima. Mais uma chaminé apertada, porém não muito alta até a gruta onde tem o lance do passo de gigante. Esse sim um lance diferente. No começo, uma chaminé pequena, onde tem que ir subindo até o bico da pedra, no máximo que puder, aí sim você consegue dar a passada para frente, sempre forçando as costas no teto. Uma chaminé inclinada, onde vai subindo como se estivesse fazendo flexão. Dali já dava para ver a escada.

Escalada Dedo de Deus

Escalada Dedo de Deus Montei a parada, reboquei as mochilas, logo em seguida veio Igor e por último o Guilherme. Não via a hora de subir aquela escada. Enquanto o Guilherme e o Igor ajeitavam a corda,  fui para cima. Cheguei lá!!!! Olhei no relógio e marcava 14:50. A vista era fantástica. Parecia que estava num avião, eu ali olhando para baixo e só via as nuvens. Tudo branco. Geralmente eu olho para cima e vejo as nuvens, ali era o contrário, eu as via olhando para baixo!!! Valeu todo o esforço. Já eram três da tarde. Fizemos um lanche, batemos fotos e descansamos um pouco.

Se fosse uma escalada normal, teria terminado por aí. Mas o Dedo de Deus é diferente. Tinha a descida!!!!! É outra aventura!!!!

Iniciamos o rapel as 16:00 h. Como estávamos com três cordas, fizemos lá de cima mesmo. Emendamos duas e fizemos um bem longo. O visual era fantástico. Passamos pelas nuvens, sem saber o que vinha abaixo. Esse rapel é pela via Teixeira, o original da conquista. Ainda dá para ver alguns grampos antigos, ainda daquela época. Dali foram mais dois rapéis até a base. Enfim começamos a caminhada.

Os cabos e a trilha estavam molhados, o que dificultava bastante. Em alguns trechos tínhamos que descer lentamente. A noite foi chegando e com as nuvens, deixou tudo muito escuro. Tivemos que acender as lanternas. Continuamos descendo. Quando chegamos a parede, no trecho inicial dos cabos de aço, resolvemos fazer um rapel. De novo, emendamos as cordas e começamos a descer. Nessa hora, as nuvens foram se dissipando e noite foi ficando mais clara. Por vezes, desligávamos as lanternas e notávamos o quanto estava claro. O Ary desceu primeiro para localizar os grampos. Ele chegou aos cabos de aço. Foi a vez da Alessandra e logo depois o Igor. Eu e o Guilherme, fizemos o rapel em simultâneo, pois ele estava sem lanterna.

Paramos mais acima que o Ary e a Alessandra. Quando puxamos a corda ela travou. Nessa hora, bateu o desânimo... Como o Ary já estava nos cabos, ele subiu para tentar desprender a corda. Ele montou o rapel numa outra parda dupla e rapelamos até o final.  Aí foi só descer... e descer... Até que chegamos a estrada. No carro, bebemos um pouco d’água que havia deixado lá. Eram nove da noite, depois de 14 horas, tínhamos voltado!!!! Missão cumprida. Sem dúvida a maior de todas!!!!!

Até a  próxima!!!!!

Segue os relatos dos outros escaladores:

"Escalar o Dedo de Deus sempre foi um sonho para mim, não só pelo ícone que ele representa para o excursionismo brasileiro (e também mundial) mas também por esta escalada fazer parte da história de minha família, por intermédio de meu pai Arno, que criou até um clube de escalada na década de 40 em Petrópolis, com meu tio e alguns amigos.
O tempo passou e apesar de fazer caminhadas desde criança, só em 2010 consegui fazer um curso de escalada (pelo CNM) e finalmente, justamente no centenário da conquista, tive o prazer de fazer cume neste belíssimo monumento.
Guiado pelo competente Leandro do Carmo, que em uma uma cordada dupla conduziu eu e o Guilherme com segurança através das tantas chaminés e fendas, finalmente, aos meus 49 anos de idade, realizei esse sonho. Valeu a pena esperar. Visual e sentimentos indescritíveis...
Parabéns a todo o grupo, principalmente ao experiente guia Ary Carlos, o grande articulador de toda a trip, que fez a guiada da Alessandra.
Fizeram falta os amigos Adriano Abelaira e Claudio Murilo, que,  já com tudo pronto, não puderam nos acompanhar por motivos de força maior.
Já estou com vontade de voltar..."
Igor Holzer


Escalada Dedo de Deus

4 comentários:

  1. É uma honra fazer parte dessa equipe! Que venham mais aventuras!!!!Simplesmente fantástico o vídeo!Abraço!

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  2. Igor meu amigo, essas coisas me pôe água na boca, como você é mau. Um abração. lindas imagens.
    Parabéns.
    Um granda abraço.
    Manoel

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  3. Relato

    28 de Julho de 2012 ficará para sempre na minha lembrança. Chegar ao topo do Dedo de Deus sempre foi um sonho e acho que para a maioria dos montanhistas também...



    Cara se você é montanhista, jamais usaria "Chegar ao topo"...

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    Respostas
    1. Qual o problema??? Num vocabulário tão rico quanto o nosso, a expressão usada é o que menos importa!!!

      Obrigado por visitar o blog.

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